A
Bíblia descreve a pessoa de Cristo como um ser de natureza humana, mas também
de natureza divina. Esta cristologia é expressa na definição de Calcedônia.
Humanidade
Jesus viveu como
homem, e sua vida foi descrita por biografias de pessoas que conviveram com ele
e registraram suas experiências e doutrinas. Existem muitas doutrinas sobre a
pessoa de Jesus, muitas destas começaram nos primeiros séculos que serão
tratadas em um capítulo aparte, pois o enfoque principal deste livro é apenas
descrever o que está registrado na Bíblia.
Vida natural humana
Fatores que
indicam a humanidade de Jesus:
§ Ele
esteve sujeito a limitações físicas como o cansaço (João
4.6), fome (Mateus
21.18) e sede (Mateus
11.19);
§ Experimentou
as emoções humanas: alegria (Lucas
10.21), tristeza Mateus
26.37), amor (João
11.5), compaixão (Mateus
9.36), surpresa (Lucas
7.9), ira (Marcos
3.5);
Vida religiosa
Sua vida religiosa
demonstra sua condição humana:
Conhecimento das escrituras
Jesus demonstrou
conhecimento superior aos homens (João 1.47, João
4.29, Lucas
6.8, Lucas
9.47), e compreendia as escrituras de modo singular (Mateus
22.29, Mateus
26.54,56).
Tentação
Cristo foi tentado
como nós, mas nunca pecou (Hebreus
4.15). Neste ponto podem surgir duas objeções:
1. As tentações de
Cristo podem não ter sido reais, porque ele não tinha natureza pecadora como
nós. A resposta a esta objeção é que os puros também sofrem tentações, assim
como Adão e os anjos.
2. Cristo não
podia pecar devido a sua natureza sem pecado. Respondemos dizendo que é preciso
considerar a intensidade das tentações. Em nosso caso, Deus filtra as
tentações antes que elas cheguem até nós (1 Coríntios 10.13).
Qual teria sido a medida da intensidade da tentação que Deus permitiu para o
seu filho? (Mateus
4.4, Lucas
22.44) O fato dele ser tentado como nós revela que
Cristo tinha nossa natureza.
Vida sem pecado
É preciso
ressaltar que Jesus Cristo, embora humano, estava livre da depravação moral
provocada pela queda (Hebreus
4.15, Hebreus
7.26, 2
Coríntios 5.21) e de qualquer transgressão pessoal. Ele foi um
ser humano sui generis, quer dizer, único no gênero.
Portanto, segundo
a Bíblia, não há dúvida de que Cristo era de natureza humana, como nós, mas com
a diferença de que ele não tinha a natureza corrupta que nós temos, nem
praticou qualquer pecado em toda sua vida.
Divindade
A divindade de
Cristo revelada na Bíblia lhe confere atributos divinos, de acordo com os
seguintes elementos:
Aspectos miraculosos
Cristo foi em sua
vida e sua obra envolvido por tantos fatos miraculosos que não se pode negar
que ele estava acima da categoria humana, pois nenhum outro homem foi como ele
nesses aspectos. Sua geração foi sobrenatural conforme Lucas
1.34.35, demonstrou poder sobre a natureza, sobre o corpo
e a vida de pessoas, sobre seres espirituais, tudo isto revela autoridade
divina.
Consciência de sua divindade
O próprio Cristo
revela sua consciência de divindade ao se igualar ao Pai na vida (João 5.26),
na honra (João 5.23),
na glória (João
17.5), na eternidade (João
8.58), no nome (João
8.24), na fórmula batismal (Mateus
28.19). Ele declara sua união com o Pai (João
5.18, (João 10.33,38).
Prerrogativas divinas
Jesus exerceu
atribuições que só cabem a divindade, como a autoridade de perdoar pecados (Marcos
2.10), para alterar a lei de Deus (Mateus
5.21), autoridade sobre o sábado (Marcos
2.28), sobre a vida de pessoas (Mateus
16.24-26), salvar pessoas de seus pecados e suas
conseqüências (Mateus
1.21, João
8.34-36). Isto demonstra sua autoridade divina.
Testemunho dos apóstolos
Aqueles que
conviveram com Jesus ficaram encarregados de testemunhar sobre sua vida e seu
ensino. Estes revelam sua divindade em João 1.1, Romanos
9.5, Tito
2.13, Hebreus
1.8, 1
João 5.20. Portanto, conforme seus relatos registrados na
Bíblia, Jesus tinha não só a natureza humana, mas também a divina.
União das duas naturezas
Como pode uma só
pessoa ser humana e divina? Como explicar este mistério?
Não basta
considerar que Cristo é humano e divino, é preciso pensar também como que as
duas naturezas se relacionavam em Cristo.
Elementos fundamentais da união
Vamos considerar
alguns elementos fundamentais que ajudam a entender um pouco desse mistério:
1. Imagem de Deus
no homem. A imagem e semelhança do homem com Deus propiciam
a base da união do divino com o humano na pessoa de Cristo. Há algo em comum
entre Deus e o homem que tornou possível a união das duas naturezas em Cristo.
2. A encarnação de
Cristo. A encarnação foi o mistério da união. Como
para Deus não há impossível, ele decidiu se aproximar do homem vivendo entre os
homens (João 1),
e resgatar a humanidade assumindo ele mesmo a culpa pela humanidade falhar nas
alianças Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, assumindo assim uma nova aliança.
3. O perfeito
mediador. Como representante de Deus para os homens e
dos homens para Deus, Cristo se tornou o perfeito mediador pois vive as duas
naturezas em uma só pessoa (1
Timóteo 2.5, 1
João 2.2, Efésios
2.16-18). Este é o maior efeito da união, pois o homem
sempre criou mediadores, e Deus tornou-se seu mediador com os homens. (Hebreus
7.24-28).
Ofícios
No Antigo
Testamento havia três ofícios ou funções fundamentais na vida do povo de Deus:
o de profeta, o de sacerdote e o de rei. Esses ofícios eram exercidos por
homens escolhidos, ungidos e investidos na função. As pessoas que ocupavam
estas funções cumpriam um papel muito importante para a vida do indivíduo e do
povo na sua relação com Deus. Deu um modo geral, por estes ofícios, o povo
ouvia (através do profeta), fazia-se representar diante de Deus (pelo
sacerdote) e tinha o governo político (do rei). Em Cristo, os três ofícios
foram reunidos e ele mesmo é o profeta, o sacerdote e o rei. Assim ele é um
mediador completo e perfeito.
Profeta
O trabalho do
profeta no Antigo Testamento era falar em nome de Deus. Ele interpretava os
atos e os planos de Deus para os homens e orientava o povo nos caminhos
traçados por Deus. Desta forma ele era um representante de Deus para o povo.
Cristo foi
verdadeiro profeta, anunciado desde Moisés (Dt 18.15). Os que creram em Jesus
Cristo reconheceram ser ele o profeta que devia vir ao mundo (Jo 6.14, At
3.22). Ele revelou Deus e a sua vontade, não apenas com palavras, mas também em
pessoa e obras (Hb 1.3). Sua revelação do Pai é final na história da humanidade
(Hb 1.1 ss).
Cristo realizou
seu trabalho profético em diferentes épocas. De modo direto e pessoal, ele
cumpriu sua função profética no período da vida terrena. Mas na preexistência,
de modo indireto, ele exerceu a função de profeta, falando através de
mensageiros, humanos ou angelicais (Jo 1.9; 1Pe 1.11). Também depois da
ascensão, ele falou pelo Espírito Santo os apóstolos (Jo 16.12,13,25; Jo
17.26). E parece na glória ele continuará revelando as coisas do Pai aos santos
(1Co 13.12).
Sacerdote
O livro de Hebreus
descreve bem o exercício do ofício sacerdotal de Cristo. No Antigo Testamento o
sacerdote era uma pessoa divinamente escolhida e consagrada para representar os
homens diante de Deus e oferecer dons e sacrifícios que assegurassem o favor
divino, e ainda para interceder pelo povo (Hb 5.4; 8.3). Mas o serviço era feito
com imperfeição, quer pela fraqueza do sacerdote, quer pelo tipo de sacrifício
que era oferecido.
Cristo realizou um
sacerdócio perfeito. As duas naturezas, humana e divina, unidas nele, o seu
caráter puro e o sacrifício de si mesmo tornam o seu sacerdócio ideal e
perfeito diante de Deus. O seu trabalho sacrificial foi consumado,
historicamente, na cruz (Hb 10.12,14). Seu sacrifício foi único e de valor
eterno, portanto, suficiente para a redenção da humanidade, sem que haja a
necessidade de qualquer outro sacrifício por parte dos homens (Hb 10.10). Seu
trabalho de intercessão foi realizado quando ele esteve na terra (Jo 17);
porém, foi depois de oferecer o seu sacrifício que ele passou a exercer,
especificamente, esse ministério de intercessão (Hb 7.25; 9.24). A base da sua
intercessão é o seu sacrifício (1Jo 2.1,2).
Rei
Os profetas do
Antigo Testamento falaram de um rei que viria da casa de Davi, para governar
Israel e as nações, com justiça, paz e prosperidade (Is 11.1-9). O anjo disse a
Maria que Jesus seria esse rei (Lc 1.32,33). Cristo mesmo afirmou que era esse
rei prometido (Jo 18.36,37). Depois da sua ressurreição, ele declarou seu poder
sobre todas as coisas (Mt 28.18). Na sua ascensão, ele foi coroado e
entronizado como rei (Ef 1.20-22; Ap 3.21). Jesus Cristo é rei, e já está
reinando, porém, não ainda de modo visível aos olhos humanos (Hb 2.8), nem de
modo pleno (1Co 15.25-28; Hb 10.13). Mas um dia Cristo estará reinando à vista
de todo mundo (Ap 11.15).
O reino de Cristo
no presente se mostra na vida das pessoas que a ele se entregam, e nas igrejas,
que são as comunidades de seus discípulos. Trata-se, no presente, de um reino
espiritual, no coração e na vida dos que nele crêem (Jo 18.36). Porém, um dia o
reino de Cristo se mostrará em toda sua plenitude na vida e no mundo, com
"novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça" (2Pe 3.13).
O sacrifício
Dentro do ofício
sacerdotal de Cristo está sua obra sacrificial. Qual o significado da morte de
Cristo? O que de fato aconteceu quando o filho de Deus morreu? Interpretações
neste sentido têm sido dadas no decorrer da história. Algumas são errôneas,
outras apresentam aspectos bíblicos da expiação. É preciso considerar todas
elas e reunir vários aspectos bíblicos que elas apresentam para se ter uma
compreensão melhor do significado da obra de Cristo na cruz.
O resgate
A idéia do resgate
implica num preço pago. A Bíblia ensina que o sangue de Cristo serviu de
resgate, isto é, foi um preço pago pela nossa redenção (Mc 10.45; 1Co 6.20; 1Tm
2.6; 2Pe 2.1). No princípio do cristianismo discutiu-se sobre a quem teria sido
pago o preço. Alguns pais da igreja entenderam que o preço teria sido oferecido
ao diabo, para resgatar os homens cativos de Satanás, mas, ao final, Cristo
teria surpreendido o inimigo, ressuscitando dentre os mortos, e derrotando o
diabo. Mas esta idéia do preço pago ao diabo é errônea. Não parece razoável nem
bíblico que o sacrifício tenha sido oferecido a Satanás. Este não adquiriu
nenhum direito sobre a humanidade, e a Bíblia não fala de nenhuma transação que
Deus tenha feito com o diabo. Certamente, o preço do resgate foi oferecido ao
próprio Deus. Foi Deus que, pela sua justiça e santidade, sujeitou o pecador ao
domínio e conseqüências do pecado, obras do diabo, de cujo cativeiro Cristo nos
resgatou (Hb 2.14,15). Então, Cristo nos resgatou do cativeiro do pecado e do
diabo, a que estávamos entregues pela justiça divina (Rm 1.24,26,28).
A ressurreição
A ressurreição de Cristo:
§ testifica
sua divindade (Rm 1.4),
§ proclama
sua vitória sobre o pecado (Hb 9.28),
§ sobre
os poderes das trevas (Ef 1.20,21),
§ sobre
a morte (2Tm 1.10),
§ assegura
a eficácia de sua obra redentora (Rm 4.25; 8,33,34; 1Pe 1.3; 1Co15.15-19),
§ evidencia
a realidade de seu reino futuro, mostra-se como as primícias da colheita
futura, que é a ressurreição, o princípio da nova criação (1 Co 15.20-26; 2Co
5.17; 2Pe 3.13; Ap 21.22).
Na ressurreição de
Cristo emerge uma nova ordem de existência neste mundo que há de consumar-se na
glória do mundo vindouro. Pela ressurreição, Cristo Jesus se torna
"esperança nossa" (1Tm 1.1).
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