A LEGITIMIDADE DO CARÁTER: ESTUDO DE CASO SOBRE O CARÁTER DE SAUL
CONCEITUANDO “CARÁTER”
caráter é
o conjunto das características, boas ou más, de um indivíduo que determinam a
sua conduta e a concepção moral. O caráter de uma pessoas é resultado de
fatores subjetivos e da sua relação com o meio.
Na perspectiva
bíblica, o caráter legitima ou reprova um indivíduo para o exercício, ou no
exercício da liderança cristã e do santo ministério (1Tm 3.1-13; Tt 1.5-9; 1 Pe
5.1-4).
SAUL: UM CARÁTER
REPROVADOR
Nem todos os traços
do caráter de um líder se manifestam antes que este ocupe as funções ou cargos
de liderança lhes confiados. A máxima: “Quer conhecer o caráter de uma pessoa?
Dê poder a ela”, parece fazer sentido. Há muitos que mudam de comportamento e
postura quando alcançam maiores patamares de poder e autoridade. Tornam-se
quase que irreconhecíveis. Analisaremos, partindo desta premissa, o caso de
Saul, o primeiro rei de Israel.
A CONDUTA DE SAUL
ANTES DE TORNAR-SE REI DE ISRAEL
Antes de se tornar
rei em Israel, não há evidências claras de que Saul possuía deficiências graves
em seu caráter. Observemos algumas questões:
- Demonstrou
obediência ao pai (1Sm 9.1-4).
- Demonstrou
obediência a Samuel (1Sm 9.19-27).
A CONDUTA DE SAUL
APÓS TORNAR-SE REI DE ISRAEL
No início de seu
reinado Saul demonstrou ter um caráter que legitimava a sua condição de líder:
- Demonstrou bom
senso ao aceitar a companhia de homens cujo coração Deus tocara (1Sm 10.26).
- Demonstrou
tranquilidade diante dos seus opositores (1Sm 10.27).
- Demonstrou
sensibilidade e solidariedade para com a causa alheia (1Sm 11.5-11).
- Demonstrou
misericórdia para com os seus opositores (1Sm 11.12-13).
- Demonstrou
gratidão e alegria ao ser reconhecido como rei pelo povo (1Sm 11.14-15).
Os primeiros sinais
de falhas graves no caráter de Saul são manifestos após um ano de reinado (1Sm
13.1). Quando pressionado em meio à guerra contra os filisteus, Saul
desobedeceu as orientações claras dadas por Samuel (1Sm 10.8), oferecendo
holocausto (1 Sm 13.8-10). O fato desencadeou o seguinte diálogo:
Samuel perguntou: Que fizeste?
Respondeu Saul: Vendo que o povo se ia espalhando daqui, e que tu não vinhas
nos dias aprazados, e que os filisteus já se tinham ajuntado em Micmás, eu
disse comigo: Agora, descerão os filisteus contra mim a Gilgal, e ainda não
obtive a benevolência do SENHOR; e, forçado pelas circunstâncias, ofereci
holocaustos. (1Sm 13.11-12)
Observamos no texto acima que:
- Saul transfere a responsabilidade
para a conduta do povo (ele faria isso outras vezes).
- Saul transfere a responsabilidade
para Samuel, devido a sua demora.
- Saul demonstra indisposição em buscar
a direção de Deus na tomada de decisões.
- Saul transfere a responsabilidade
para as circunstâncias.
Como resultado de sua atitude, e mais
ainda, diante de suas alegações desprovidas de um caráter íntegro, de um
caráter que assume as responsabilidades, Saul é reprovado como líder da nação:
Então, disse Samuel a Saul: Procedeste
nesciamente em não guardar o mandamento que o SENHOR, teu Deus, te ordenou;
pois teria, agora, o SENHOR confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Já
agora não subsistirá o teu reino. O SENHOR buscou para si um homem que lhe
agrada e já lhe ordenou que seja príncipe sobre o seu povo, porquanto não
guardaste o que o SENHOR te ordenou. (1Sm 13.13-14)
Num primeiro momento parece-nos que
Deus foi duro demais para com Saul, não lhe dando chance ou nova oportunidade.
O fato é que o Senhor conhece os corações, e nunca reprovará injustamente aqueles
que falham diante dele. Deus tem sempre razão em suas decisões. Ele nunca erra.
O tempo sempre provará que o Senhor estava e estará certo em suas resoluções.
O VOTO DE SAUL E A SUA APARENTE DEVOÇÃO
No capítulo 14 de 1 Samuel há uma série
de atos de Saul que aparenta devoção e fervor espiritual. O capítulo se inicia
com voto que tinha como objetivo a vitória contra os filisteus (1Sm 14.1). Há
algo na fala de Saul que não soa muito bem. Ele trata da batalha como uma
questão pessoal: “para que me vingue de meus inimigos”. Um líder espiritual não
milita em causa própria, nem luta em defesa de sua honra, antes, entende que
peleja para a glória de Deus e em benefício do povo.
Há outras ações de Saul que aparentam
atos espirituais. Ele mobiliza o povo para oferecer uma grande sacrifício (1Sm
14.34), e edifica o seu primeiro altar ao Senhor (1 Sm 14.35). Toda aparente
espiritualidade de Saul desaparece ao tratar do caso que envolve o próprio
filho Jônatas, que quebrou o voto sem conhecimento do pacto firmado pelo pai
(1Sm 14.27-28). Sem buscar a apuração dos fatos, Saul se precipita ao
sentenciar o próprio filho à morte (1Sm 14.43-44). A tomada de decisão de Saul
é tão insensata, que ele consegue comprometer a sua autoridade, na medida em
que o povo toma partido em favor de Jônatas (1Sm 14.45). É lamentável quando a
decisão de um líder é rejeitada pelo povo. Decisões precipitadas e injustas
sinalizam um caráter fraco. Um caráter fraco enfraquece a liderança.
UM CARÁTER QUE NÃO ASSUME AS
RESPONSABILIDADES
Os erros decorrentes da falha de
caráter de um líder não são consertados com remendos ou paliativos. A
desobediência e o pecado na liderança precisam ser tratados a partir do
arrependimento, confissão e conversão daquele que erra. Para isso, é necessário
que o líder assuma as responsabilidades por suas ações.
Saul, quando confrontado com a sua
desobediência deliberada (1Sm 15.1-3; 10-18; 22-23), em vez de assumir o seu
erro, tentou transferir a responsabilidade para o povo (1 Sm 15.9; 14-15;
20-21; 24-25). O resultado disso? Um líder rejeitado pelo Senhor (1Sm 15.23;
26-29). Quando Deus rejeita definitivamente um líder, não devemos ter pena,
pois somente Ele conhece plenamente os corações (1Sm 16.1).
DIVERSAS MANIFESTAÇÕES DE UM CARÁTER
REPROVADOR NA LIDERANÇA ESPIRITUAL
Saul é um daqueles exemplos de líder
com quem aprendemos a não fazer as coisas. Outras falhas de caráter vão se
avolumando ao longo de sua permanência no trono de Israel. Observemos algumas
delas:
- Ciúme e inveja diante do crescimento
da popularidade de Davi (1Sm 18.6-16).
- Intenções maléficas camufladas de
atos de bondade (1Sm 18.17).
- Falta de compromisso com a palavra
firmada (1Sm 18.18).
- Obstinação e nova tentativa de matar
Davi (1Sm 19.8-11).
- Saul tenta matar o próprio filho por
defender Davi (1Sm 20.30-33).
- Um caráter reprovável conduzirá o
líder à apostasia (1Sm 28.5-25).
- Um caráter reprovável poderá conduzir
o líder ao suicídio e à perda da própria salvação (1Sm 31.1-4).
Que cada um de nós possa olhar para si
mesmo através do espelho da Palavra, e que tal atitude transforme e aperfeiçoe
o nosso caráter, para que a nossa liderança seja legitimada, para que não
percamos a nossa salvação, para que confirmemos a nossa gratidão para com aquele
que nos fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que nos considerou fiéis,
designando-nos para o ministério, mediante sua misericórdia, e sua graça
transbordante (1Tm 1.12-14).
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